Christina - Mais de três anos... não imaginava que era tanto tempo assim. Tenho certeza que eles estarão bem, aguente só mais um pouco. E enquanto conversamos mantenha a postura e continue com os movimentos.
A mulher não interrompia Últimos enquanto contava sua historia, porém quando o garoto terminava Christina esperava ele voltar em posição e o observava com cautela. Sempre que o rapaz acabava se distraindo ela o fazia se concentrar dando uma leve batida nos braços dele com a bainha de sua arma. Apesar de estar agindo de forma severa o golpe não tinha quase intensidade nenhuma, então era mais para manter a atenção de Últimos no treinamento do que puni-lo. Enquanto ela ia ajudando o rapaz a manter a forma e sempre dando conselhos da melhor forma de fazer aquele movimento, a mulher ouviu a pergunta do garoto e ponderou um pouco, antes de responder com gentileza em sua voz.
Christina - Minha historia não é algo incrível como você imagina. Meus pais sempre acharem que fossemos merecedores da nobreza, então agiam como tal. Comprando roupas caras, gastando dinheiro com coisas superficiais para demonstrar superioridade. Mas eles esqueceram que eramos uma família normal, que nem mesmo tinha muito dinheiro, então não precisou de muito para eles falirem completamente. Antes disso acontecer porém, eles gastaram uma fortuna em coisas para eu aprender. Musica clássica, dança, estudos dos mais avançados, etiqueta, e claro, esgrima. Todos os dias eu só aprendia e treinava, sempre forçada a fazer varias tarefas que eu não gostava, ganhar conhecimento e aprender a lutar era ótimo mas, dançar? Aula de etiqueta? Eu não suportava essas coisas. Então eu focava todo meu tempo em aprender o que os livros difíceis significavam e, principalmente, aprender a lutar com a melhor forma possível. Eu amava, amo, esgrima. Acho uma forma tão bela e tão precisa de se lutar, aprender essa arte foi o que me manteve seguindo em frente por muito tempo, e meu instrutor era excelente então eu aprendi muito bem. E por isso infelizmente eu consegui a maestria em esgrima muito rápido, e meus dias de felicidade treinando com minha espada acabaram, sobrando apenas tudo que eu não queria fazer.
Christina - Por um tempo eu pensei em... desistir... porém um dia voltando para casa da escola eu conheci uma pessoa que me salvou. Joseph, ele era um garoto totalmente rebelde, vivia nas tavernas e sendo expulso delas por ser menor de idade. Arranjava confusão com crianças e adultos, e sempre estava metido em algum tipo de crime. Eu o repugnava, porque? Porque meus pais mandavam odiar pessoas assim, e infelizmente eu só sabia obedece-los, então eu o ignorava sempre. Só que aquele dia foi diferente, alguns meliantes decidiram me assaltar, achando que minha família realmente era nobre e rica. Eu estava cercada de ladrões armados que não pensariam duas vezes em me machucar, além disso eu estava sem minha espada, da qual ficava em casa escondida. Eu ignorei as ameaças dos garotos e lhes disse que os machucaria se tentassem algo, o que só os fez ficarem mais raivosos ainda, e então Joseph apareceu. Você deve estar imaginando que ele me salvou como se fosse uma daquelas lindas historias de príncipe e princesa né? Não, o que aconteceu foi muito melhor. Ele se aproximou de todos nós se preparando para lutar, eu, um tanto quanto orgulhosa, disse a ele que não precisava de ajuda, e as palavras dele depois me marcaram até hoje. "É claro que você não precisa de ajuda, acha que sou idiota?! Uma garota durona como você pode derrotar esses merdinhas com facilidade. Mas se precisar de apoio eu vou estar aqui, para lutarmos juntos!". Ele foi o primeiro e único que reconheceu minha força, meu potencial, e me motivou a demonstrar isso para o mundo. Eu não consegui ganhar de todos sozinhos e no fim precisei da ajuda dele, porém quando derrubamos o ultimo ladrão, costas a costas, ofegantes e sangrando, eu tive o momento mais feliz da minha vida. Daquele dia em diante eu sempre saia com o Joh depois da escola, nos metendo em confusão, cometendo crimes, batendo em crianças e adultos, chegamos a ser conhecidos como a dupla de demônios da nossa cidade. Forem bons tempos, que duraram pouco.
Christina - Por eu estar sempre saindo com ele, eu chegava em casa atrasada, suja, as vezes ensanguentada ou com manchas roxas no corpo, e isso obviamente enfureceu meus pais. Eles começaram a ser cada vez mais severos comigo e me impediam de sair de casa, se demorasse pra chegar da escola eles me puniam, de formas que você não imagina. Eu já não aguentava mais, eu queria morrer, do que adiantava continuar se eu não teria futuro? Se desobedece meus pais eu seria torturada como punição, se os obedecesse eu não teria futuro, pois eu via como em pouco tempo iriamos falir e não teríamos mais nada. Então um dia eu decidi que iria acabar com minha vida, que não tinha motivos para continuar, e novamente Joseph me salvou. Ele invadiu minha casa e entrou escondido em meu quarto, ao descobrir o estado em que eu estava ele se encheu de ódio, e decidiu que iria me tirar de lá para podermos fugir da minha família. Eu peguei algumas roupas, minha espada, e nos tentamos sair sorrateiramente, mas meu pai nos pegou. Ele surtou completamente, gritando de ódio e apontando uma adaga para nos dois, ameaçando nos matar juntos se não parássemos com aquela "idiotice". Joh queria ataca-lo mas eu não queria deixar pois apesar de tudo ele ainda era meu pai, eu tentei convence-lo de que se eu fosse embora seria melhor mas, a reação dele foi inesperada pra mim. Meu pai, meu próprio pai, cortou meu rosto, mais precisamente bem no meu olho direito, fazendo um corte profundo que tirou minha visão e deixou uma enorme cicatriz, e por isso eu uso esse tapa olho.
Christina - Enfurecido Joh partiu para cima dele e o espancou, eu poderia te-lo impedido mas, depois disso eu decidi que o meu ex pai não merecia meu perdão. Joh obviamente não o matou, mas tenho certeza que ele esta sentindo a dor de ser espancado até hoje. Com nosso caminho livre nos fugimos e fomos direto para um hospital cuidar do meu ferimento. Chegamos a tempo do ferimento não se tornar nada grave e, depois disso partimos em rumo de encontrar nosso futuro. Dali em diante nossa vida foi viajar, cometer alguns crimes e confusões, crescer juntos, namorar, casar, e finalmente encontrar o capitão. Foi quando encontramos ele e o Palácio Marinho que percebemos que nos nascemos para isso, para sermos piratas. Não é bem uma vida exemplar, já que como somos piratas somos praticamente ladrões, saqueadores e assassinos do mar. Ainda assim, eu tenho orgulho da vida que escolhi, sou muito mais feliz aqui e, foi aqui que eu encontrei minha verdadeira família, eu amo a todos como se fossem sangue do meu sangue. Bem, acho que ja falamos demais né? Você já treinou o bastante por hoje Últimos, pode ir descansar um pouco, logo devemos chegar em Korabl.
A mulher disfarçava uma lagrima fingindo estar coçando o olho e então dizia para o rapaz ir descansar. Mesmo não tendo percebido antes, Últimos sentia que seu corpo tinha ficado um pouco pesado, pareceu estar treinando a pouco tempo porém não era verdade, a conversa dos dois foi longo e ele ficou durante toda ela treinando. O rapaz poderia então ir descansar mais um pouco antes de chegar em Korabl, mas ele também poderia aproveitar para conversar mais com Christina, ou até talvez procurar algum outro tripulante para conversar mais. O que Últimos achava melhor fazer?